quinta-feira, 22 de dezembro de 2011

Mutável

   E essa coisa do instável me machuca, sabe. Essa mudança repentina de humor, essa troca de ideias que não tem fim. Sei lá, não tenho espírito fixo, não tenho um desejo simples e fácil, um sonho claro e concreto; eu quero de tudo um pouco, eu quero dependendo do momento. E o que eu quero, sinto muito em dizer, mas está lá no fundo, trancado, selado de forma que às vezes, nem eu sei desvendar. E tem mais, eu mudo de ideia rápido, eu chego ao tédio mortal em segundos. E eu não demonstro, mas sou corroída aos poucos. Com cada sorriso mal feito, com cada olhar de descrença, é um pouco de mim que se desgasta, mas continuo de pé. Continuo distribuindo ironias, continuo com minha falsa indiferença. Mas a verdade é que, com cada um que desacredita em mim, aos poucos venho me sentindo oca.

quarta-feira, 14 de dezembro de 2011

Rain and Tears

  E lá estava ela, em frente à janela fitando as estrelas, sentindo o ar frio de mais uma noite de inverno roçar-lhe as bochechas úmidas. Chovia lá fora, e isso era um pouco irônico: ver as ruas desertas sendo alagadas enquanto lágrimas quentes molhavam suas faces. Ela sentiu vontade de rir, não sabia ao certo por que, mas sua feição estúpida refletida na vidraça lhe parecia cômico. Ela não queria ver ninguém, não queria ouvir ninguém murmurar “eu avisei”, ou então, lhe sorrir afetuosamente como se sentisse muito, ou pior, como se a entendesse. Pois não entendiam, nenhum deles entendia o arrependimento e a vontade de voltar no tempo que ardiam em seu peito. E foi por isso mesmo que, respirando fundo, ela escancarou a janela e sentiu o vento gélido secar suas lágrimas; quem sabe a noite pudesse velar sua dor.

domingo, 4 de dezembro de 2011

Reescrever...

Preciso reescrever minha própria história. Reler algumas páginas gastas, reviver momentos marcantes, apagar coisas inúteis e refazer capítulos sofridos. Também preciso salvar páginas perdidas, que há séculos caíram em meu próprio esquecimento. Tenho que entender melhor alguns personagens, retirar outros do posto de protagonista ou quem sabe exilá-los definitivamente. Preciso deleitar mais de meus próprios cenários, descrever mais de meus incansáveis diálogos e pensamentos inquietantes. Dessa vez, sei que eu escolheria melhor os nomes a serem colocados nos créditos finais, me dedicaria menos ao prólogo e finalmente daria mais valor às entrelinhas. Se assim fosse, quem sabe, diferente da prévia ou do esboço, essa história ostentaria um final feliz na última página.

terça-feira, 29 de novembro de 2011

E que venha a chuva...

 E que venha a chuva para lavar todos os meus maus conceitos, todas as minhas tolices e preocupações desnecessárias. E que venha também o sol, para quem sabe me tirar dessa penumbra incansável, aquecer aquilo que, de tão gélido, se perdeu. E eu quero também a primavera, o outono, a neve... Preciso renascer, preciso recomeçar, preciso de uma nova chance, de uma limpeza em minha vida, de um vento forte pra espantar tudo aquilo que não me pertence de verdade, de algum sopro frio pra congelar tudo aquilo que ainda me chateia...

sexta-feira, 28 de outubro de 2011

Cansei...

  Cansei de vagar por aí em busca de nada. De assistir, completamente coadjuvante, aos sonhos dos outros se realizarem. Cansei de caminhar para o nada ou deixar que o vento simplesmente me levasse. De seguir um dia após o outro sem qualquer expectativa, esperando que, vez ou outra algo me surpreenda. Cansei de idealizar futuros, dos quais eu não pertenço. Ao menos uma vez, espero correr em busca de algo que não me pareça nada além de certo. Tão certo que não necessite de qualquer dúvida ou contestação, certo como se somente aquilo me chamasse e pudesse me manter em pé. Na verdade, acho que só anseio por algo em que acreditar, algo que me faça ir em frente.                                        

sexta-feira, 14 de outubro de 2011

Passageiro

    Talvez se ela soubesse que tudo é passageiro. Talvez se ela soubesse que um dia teria que seguir sua própria estrada e que isso incluía alguns abandonos; talvez se ela não tivesse cultivado lixo como se fossem rosas. Talvez assim, tivesse aprendido sua lição e pudesse seguir sua trilha sem olhar pra trás. Se praticasse o desapego e soubesse que certas coisas nos modificam, deixam cicatrizes, mas jamais serão eternas, ela não teria carregado seu fardo por tanto tempo. Não teria derramado tantas lágrimas desnecessárias e nem retardado seu caminho só pra arrastar aquilo há tempos já não lhe pertencia.           

quarta-feira, 5 de outubro de 2011

Lado Perverso

  Tenho também meu lado perverso. Todos têm. Tenho meus pensamentos cruéis, minha inveja às vezes levemente desenfreada, meus surtos de raiva e meu orgulho inesgotável. Sim, eu sei mentir e também penso coisas maldosas, mas quem não pensa? Quem nunca se divertiu com os tombos alheios? Admito que também sei ser uma boa garota, que às vezes não consigo dizer um não, que sei me torturar por um erro mínimo e deixo a culpa me devorar aos poucos. Que já tive pena de alguém e já fingi só pra não acabar com a felicidade alheia. A verdade é que ninguém nunca será bom o suficiente pra não ter nada de mau, então, eu simplesmente não me recrimino. Não estou aqui pra ser exportada para o céu, não quero uma vida sem pecados ou livre de erros. Apenas sigo meus instintos, apenas erro o suficiente pra saber que não sou projetada pela perfeição. Não pretendo conseguir nada arruinando aos outros e isso já é o suficiente pra livrar minha própria consciência.                                                                    

terça-feira, 27 de setembro de 2011

Fantoche

   Aos poucos idealizaram seu futuro, planejaram cada passo seu cuidadosamente, mediram suas palavras e lhe forçaram a engolir suas criticas. No início, ela protestou, mas logo começou a ceder; a algema ruiu sobre seus pulsos, a mordaça já estava em sua boca. Fora marcado o seu destino. As cordas lhe ergueram e seu corpo já se movia conforme eles comandavam. Aos poucos, seu sorriso se desfez e cada passo seu era inventado, a cada direção ela era empurrada sem ao menos estar ciente. Sua vida estava marcada, sua rotina, seu futuro e suas opiniões eram todas pré programadas. E em algum momento, ela fora obrigada a idolatrar a alguém que nem ao menos existia, fora jogada contra algo que abominava e lhe fazia desmoronar aos poucos. E deste então, o rancor começou a brotar em seu peito, a raiva há muito tempo contida já começava a transbordar. A angustia e o ódio lhe dominavam e, em um surto, as algemas ela arrancou, as correntes em volta de seu pescoço foram quebradas e as cordas já não eram suficientes pra lhe domesticarem. Ela já não era mais um fantoche daqueles que pensavam ser seus proprietários. Um pouco tarde talvez, mas um enfim ela se libertou.

domingo, 25 de setembro de 2011

Não preciso de telespectadores

 Não sou do tipo que faz da própria dor um espetáculo; não preciso de telespectadores. Muito menos tenho a pretensão de exibir minha melhor cena de drama, desejando em silêncio, que alguém venha me encobrir com sua solidariedade falsa. Não espero que meu silêncio ecoe mais que seus berros, que atraiam qualquer atenção pra uma dor remotamente exagerada. Não quero o papel principal de garota sofrida, de garota experiente, que pensa que por todas as situações já passou. Não quero inventar um personagem pra me sentir menos miserável. Quero apenas o gosto da minha própria solidão, da minha própria vidinha desprovida de grandes feitos e que não exige personagens pra aliviar qualquer frustração passageira.                                                                                                                         

quarta-feira, 21 de setembro de 2011

Crying

 Eu dizia a elas para saírem, para escorrerem por minha face e assim, com alguma sorte, levarem embora toda dor. Mas, como se quisessem me mostrar que eu merecia tudo aquilo, que eu merecia cada gota não derramada de agonia, elas teimavam em não me obedecer. O maldito nó na garganta parecia me sufocar aos poucos, a cada respiração ele estava ali, me apunhalando aos poucos, me mostrando que nada estava certo. Vontade aquela que eu tinha de arrancar aquilo que me dilacerava o peito, que tirava toda a minha paz e me despedaçava aos poucos. O engraçado era que a minha volta, ninguém parecia perceber o dilúvio de emoções que ocorria dentro de mim. E então, mais uma vez pus meu melhor sorriso no rosto e fingi que, por dentro, eu não estava despedaçada. Sorri, acenei e falei mais uma vez que estava tudo bem.

segunda-feira, 19 de setembro de 2011

Os forcei a adormecer

  Os forcei a adormecer, a se silenciarem dentro de mim. Entretanto, eu sabia que não seria para sempre, eles ainda estavam ali. Quietos, porém assistindo cada passo meu, apenas esperando, esperando o momento certo para voltarem a me aterrorizar. Meus monstros, meus fantasmas, meus fracassos e minhas dores passadas... Ninguém ousaria dizer que eles não existiam, eles estavam ali, bem próximos, dentro da minha mente e em cada lembrança minha. Eles eram meus antigos erros, minhas mais profundas covardias e meus piores  temores, que ainda voltariam a me sufocar e me trazer a loucura.
                                                                                                                      

quinta-feira, 15 de setembro de 2011

Um dia ainda


Um dia ainda olharei para trás com lágrimas nos olhos, me arrependerei de milhares de coisas, desejarei poder voltar no tempo, ter sido mais madura, ter aproveitado mais; um dia ainda chorarei em silêncio, ainda rirei sozinha, ainda sentirei saudades por saber que por mais estúpido que tenha sido, valeu à pena.

Era uma vez...

Era uma vez uma garota cujos sonhos há tempo haviam sido arruinados. Uma garota de pensamentos gélidos e olhar vazio que desacreditava na vida. Nunca esteve em seu próprio reino, nunca estampou um sorriso sincero e nunca ninguém lhe salvou com um beijo. Porém, ninguém ousaria dizer que não era uma princesa... Princesa da dor talvez, dos sonhos perfurados e das lágrimas discretas. Por muito tempo, ela esperou ser acordada do seu devaneio, ser levada pra seu castelo e ter seu espírito curado. Mas infelizmente, ninguém nunca apareceu. Ela estava condenada. Condenada a sustentar seu olhar vazio, suas emoções mortas e seu sorriso inexistente. Sim, seu ‘felizes para sempre’ nunca chegaria.                            

Preciso

“Preciso destruir o muro a minha volta, me desfazer dessa velha armadura de mentiras, largar minha máscara de sorrisos falsos. Preciso esquecer tudo aquilo que já me encobriu, todas as imagens e calunias estúpidas que um dia já enganaram até a mim mesma.”